Água, saúde e descarte de medicamentos
Jogar remédio pelo ralo ou vaso sanitário não é a solução correta
O bem-estar humano está vinculado à saúde animal e vegetal.
No mês em que comemoramos o dia mundial da água - vital para a existência humana - e depois de uma longa pandemia, durante a qual centenas de toneladas de medicamentos foram utilizados, é preciso refletir sobre como lidamos com o descarte destes resíduos.
Além dos remédios de uso humano, vale lembrar dos antibióticos e hormônios utilizados na pecuária.
Mas o que fazer quando o remédio perde a validade ou já não é mais necessário? Muitas pessoas acham que jogar remédio pelo ralo da pia ou vaso sanitário é a solução correta.
Não sabem, contudo, que isso prejudica seriamente o meio ambiente e pode contaminar a água que bebemos. "Os impactos que [esses medicamentos] podem ocasionar à saúde e ao ambiente ainda não são bem compreendidos”, alerta Ana Carla Coleone de Carvalho em pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo.
A pesquisa de Ana Carvalho identificou fármacos como haloperidol, ibuprofeno, paracetamol, sinvastatina, atenolol, carbamazepina em água bruta e tratada em estação de tratamento convencional. Algumas destas substâncias presentes na água bruta não foram removidas pelo tratamento convencional da água.
A presença de fármacos em água destinada ao consumo humano deve-se muito à excreção pelas fezes e urina. Mas não apenas. O descuido na hora do descarte contribui para aumentar as concentrações de substâncias químicas em águas superficiais.
"O descarte correto dos remédios é fundamental para a preservação do meio ambiente e da saúde pública. Hoje, as estações de tratamento e esgoto não preveem o tratamento de diversas substâncias presentes nos fármacos, por isso o melhor caminho é destinação correta de medicamentos", explica Lucas Barbosa, Engenheiro Ambiental e Sanitarista do Grupo Servioeste.
Medicamento em desuso deve ser tratado por empresa especializada
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul identificaram que a presença de hormônios e anticoncepcionais em rios vem alterando a distribuição de machos e fêmeas de peixes e anfíbios nos locais próximos às fontes de contaminação, por exemplo. Ainda que as concentrações sejam muito pequenas a ponto de não gerar risco direto à vida humana, o meio ambiente aquático vem sofrendo consequências desastrosas já que estas substâncias afetam toda a cadeia alimentar dos animais, além de potencializar a resistência antimicrobiana, explica Tânia Pizzolato, do Instituto de Química da UFRGS.
Também o uso de antibióticos em animais de corte (proteína animal) e na agricultura gera uma pressão seletiva que tende a selecionar os microrganismos multirresistentes e afetar a saúde humana, animal e vegetal, relata Tiago Danelli, pesquisador da Universidade Estadual de Londrina.
Para evitar problemas de saúde coletiva, é preciso compreender que a solução passa pela responsabilidade e cuidados com os produtos utilizados: Remédios de consumo humano e animal, sejam de uso doméstico ou utilizados em clínicas médicas, hospitais, veterinárias, ou pela indústria de proteína animal, devem ser tratados por empresas especializadas.
Assista ao vídeo sobre descarte de medicamentos.